A nossa Constituição Federal deveria ser revista. Afinal de 88 para cá muita coisa mudou. O mundo mudou. Evoluiu. As pessoas evoluíram, mudaram. Mas nem todas. E parece que é baseado nesse fato que devem achar que está tudo bem como está. Mas não está não. O nosso código penal também deveria vir na onda dessa mudança. Afinal, tudo evolui, ou deveria evoluir com o tempo.
O nosso maior direito, na minha opinião, expresso no caput do artigo 5º da Constituição Federal está há muito tempo sendo desrespeitado, está sendo banalizado, o que pode nos levar a dizer que está perdendo o seu poder de ser cláusula pétrea, que é o direito à vida.
Depois desse último fim-de-semana, onde ocorreram crimes por motivos banais, em São Paulo e no Rio de Janeiro, me deparei com uma verdade que já estava estampada em todos os jornais, e sendo noticiada em todos os telejornais, e pela qual eu lutava para que não fosse verdade: acabou o nosso direito à vida.Se já não bastasse a nossa violência comum do dia-a-dia, traficantes contra traficantes, traficantes contra a polícia, está crescendo outra violência: a urbana. Àquela que surge de repente, depois de uma freada, depois de uma simples batida, depois de um avançar o sinal, depois de uma fechada. Esta violência começa a me preocupar e muito. Há pouco tempo atrás, tínhamos medo somente de uma bala perdida - ainda temos -, de levar um tiro para se roubar um par de tênis, uma bicicleta. Tínhamos medo de sair de um banco, de voltar tarde da noite para casa ou de passar por certas vias expressas. Muitos desses medos ainda continuam, mas surge uma nova categoria: o medo de andar de carro, o medo de enfrentar o trânsito e a violência por ele produzida.
As pessoas estão perdendo o valor pela vida. Nada mais parece evitar que alguém hoje saia do carro com uma barra de ferro e agrida um pedestre que atravessa uma rua quando o sinal dizia que ele poderia ir. Nada parece evitar que uma simples freiada que evitou até uma batida faça com que alguem saia do carro para discutir e acabe a história dando um tiro em um dos ocupantes do outro carro.
Então, hoje, mesmo você não expressando nenhuma reação a uma ação cometida no trânsito, você não está livre de ser morto ou agredido. Não temos mais para onde correr. As pessoas estão mais violentas e dando uma literal banana ao nosso direito à vida.
E no meio disso tudo não vejo nenhum movimento dos defensores desses direitos. Quem? Aqueles que sempre que um bandido, um marginal é preso aparecem - talvez para aparecer mesmo - defendendo os direitos humanos dos bandidos. Eles podem até ter esse direito, mas não é um direito de uma via única. As vítimas também têm. Ou melhor, a família da vítima também deveria ter esse direito validado. Deveriam aparecer também seus defensores. Mas não é isso que acontece. E depois de um tempo, essas vítimas simplesmente engordam as estatísticas e nada mais muda. Simplesmente é disponibilizada a próxima senha. Que venha a próxima vítima.
Mas essa história quando que será mudada? O que mais é preciso acontecer para acender a luz de nossos magistrados? A luz não é mais nem a amarela de alerta. Já passou disso.
Mas percebo que está acontecendo um ciclo. Um ciclo triste. Morre uma vítima dessa "nova" violência, isso vira notícia, é feita a investigação, por muitas vezes chega-se ao autor da violência, ele é julgado, condenado e ponto final. Uma semana depois, um dia depois, acontece tudo de novo. Não existe nada que iniba uma pessoa a cometer essa violência. Se as leis fossem revistas, se houvesse uma punição mais severa para certos crimes, talvez pudéssemos até ver uma luz tênue no fim do túnel. Talvez isso fizesse que as pessoas pensassem mais. Não sei.
O problema é que a vida dos outros segue o curso normal da história. Somente as famílias das vítimas é que tem esse curso desviado. Não que a vida irá parar para eles. Não. Mas esse simples desvio faz com que eles queiram que todos parem, e olhem um pouco à frente. Não precisa ser nem muito à frente. Basta que olhem e percebam que é hora de mudar.
E mudar requer vontade. Não basta a nossa, mas ajuda. E se essa nossa vontade é tão grande, devemos na hora de votar, lembrar disso tudo. Pois como não podemos simplesmente chegar e redigir uma nova lei, acrescentar algo novo à nossa Constituição Federal, podemos sim, colocar quem pode e quem demonstra querer nesse caminho. Isso nós podemos e por muitas vezes deixamos passar essa que é para nós a única oportunidade de mudar um pouco essa História e passar a contar apenas histórias, nem que sejam da Carochinha.